Ritos e Rituais
Existem diferentes rituais, praticados por diferentes ritos maçónicos.
Partindo dos primitivos rituais ingleses, ao longo do tempo e do espaço, novos rituais foram criados. A base é sempre a mesma: os princípios fundamentais maçónicos e a inclusão de alegorias e referências simbólicas, como base para o trabalho individual de cada maçon. Uns rituais são claramente deístas e inclusivos de elementos de todas as religiões e até sem religião definida, desde que crentes num Criador; outros sofrem manifestamente de visíveis influências crísticas, sendo claramente mais confortáveis para os praticantes da tradição religiosa cristã.
Referir os ritos e rituais existentes levará seguramente a pecar por defeito, por esquecimento ou ignorância de rituais extintos, localizados ou raros. Mas, mesmo com carácter exemplificativo e recorrendo apenas à memória, é possível indicar vários: o Rito de Emulação, o Rito de York, o Rito Escocês Antigo e Aceite, o Rito Escocês Rectificado (rito muito praticado na Suíça, na Grande Loja Suíça Alpina, e com características crísticas marcadas), o Rito Francês ou Moderno, o Rito Sueco e as suas variantes nos países nórdicos, o Rito de Schröder, etc..
Em cada Grande Loja pode praticar-se um ou mais ritos. Por exemplo, nas Grandes Lojas dos Estados Unidos, pratica-se, nos três graus da Maçonaria Azul - Aprendiz, Companheiro e Mestre -, exclusivamente um rito, a variante americana do Rito de York, também conhecida por Rito de Preston-Webb. Existe apenas uma excepção: na Grande Loja da Louisiana persistem, desde os tempos das Lojas existentes quando a Louisiana era francesa, algumas poucas Lojas, menos de uma dúzia, que praticam nos três primeiros graus o Rito Escocês Antigo e Aceite. Nos Estados Unidos designam essas Lojas por Maçonaria Vermelha, em alusão à cor dos aventais própria do rito. Só nos Altos Graus se verifica existirem dois sistemas principais, os Altos Graus do Rito de York, referidos por York Rite, e os Altos Graus do Rito Escocês Antigo e Aceite, referidos por Scottish Rite.
Em Portugal, na GLLP/GLRP, praticam-se os seguintes ritos/rituais:
Rito Escocês Antigo e AceiteRito Escocês RectificadoRito de YorkRito AdonhiramitaRitual de Emulação
A influência das Cruzadas devia fazer--se sentir, não só entre os artífices, mas ainda entre os nobres que também conheceram na Palestina novas formas de associações e, uma vez de volta à Europa, constituíram Ordens semelhantes às do Oriente, nas quais admitiram logo outros iniciados. É assim que em 1196 se fundou na Escócia a "Ordem dos Cavaleiros do Oriente", cujos membros tinham como ornamento uma cruz entrelaçada por quatro rosas.
Dizem que dessa Ordem, trazida da Terra Santa pelo ano de 1188 da Era Cristã, fez parte o rei Eduardo 1 de Inglaterra, (1239-1307).
Um século após a fundação da Ordem dos Cavaleiros do Oriente, ou seja pelo ano de 1300, em seguida à última Cruzada em que também tomara parte o rei de uma Ordem estabelecida no Monte Mona, na Palestina (lugar escolhido por Salomão para a construção do seu Templo), foi fundado um Capítulo dessa mesma Ordem, fixando-se-lhe a sede nas Hébridas e, mais tarde em Kilwinning, denominando-se essa Ordem de "Ordem de Heredon" (lembramos que a palavra "Heredon" é composta de "hieros"- santo e "domos"- casa, portanto Casa Santa ou Templo).
Alguns anos mais tarde, no começo do século XIV, o papa Clemente V e o rei da França, Felipe o Belo, iniciaram a sua obra nefasta de perseguição aos Templários.
Para se compreender o papel que a Ordem do Templo desempenhou na Maçonaria Escocesa é necessário resumir a sua história.
A Ordem do Templo foi fundada, após a primeira Cruzada, por Godofredo de Bouillon, Hugues de Payens e Godofredo de Saint-Ornar, com o fito de proteger os peregrinos que de Jerusalém se dirigiam ao lago de Tiberiade. Associados em 1118 a outros sete Cavaleiros, os Templários fizeram o seu quartel numa casa vizinha ao terreno do Templo de Jerusalém. Dez anos mais tarde receberam do Papa os estatutos que os constituíram em Ordem, ao mesmo tempo Religiosa e Militar.
Em breve a Ordem tomou um desenvolvimento considerável e no século XII, possuía nove mil residências na Europa. No século XIV, contava com mais de vinte mil membros. Apesar do seu poder e da sua riqueza, o mistério com que os Templários rodeavam as reuniões do seu Capítulo e as suas iniciações prestavam-se às acusações de impiedade e de crueldade que o povo em todos os tempos profere contra as associações secretas.
Consciente de uma impopularidade crescente, o Grão-Mestre Jacques de Molay, pediu ao papa Clemente V, em 1306, a abertura de um inquérito, mas este contentou-se a convidar Molay para ir a Avignon, em França, onde, por força de circunstâncias adversas estava provisoriamente instalado o papado.
Por outro lado o rei da França tinha mais do que nunca necessidade de dinheiro e, para resolver esta dificuldade, valia-se dos Templários que lhe emprestavam elevadas somas. Ora, naquele tempo, quando alguém se queria desembaraçar de uma dívida, o meio mais simples era desembaraçar-se do credor. Foi por isso que em Setembro de 1307 todos os oficiais do rei receberam instruções mais que misteriosas, sendo que a 12 de Setembro do mesmo ano Molay era preso no Templo, ao mesmo tempo que outros membros da Ordem também o eram, em todos os pontos de França. No mesmo dia foram todos levados perante inquisidores que os acusaram dos mais abomináveis crimes, e como não podiam confessar um crime que não haviam cometido, foram levados à tortura. Disse um deles aos seus juízes:
- Fui de tal modo torturado, atormentado, exposto à força, que as carnes dos meus calcanhares foram consumidas e os ossos caíram poucos dias depois.
O Rei, Felipe, o Belo, apressou-se em fazer mão baixa no tesouro da Ordem, depositado no Templo de Paris. O concílio que deveria julgar os Templários reuniu-se em Viena, no Delfinado, a 13 de Outubro de 1311, onde ninguém foi citado para defender-se. Porém, perante a resistência do concílio em julgar tal iniquidade, o Papa Clemente V, anulou a autoridade da Ordem do Templo em 12 de Abril de 1312, apesar dos concílios de Ravena, Salamanca e Moguncia terem absolvido os Templários, sendo estes levados à sua presença.
A supressão da Ordem dos Templários teve seu epílogo em 1313. O papa reservara para si o julgamento do Grão-Mestre e dos dignitários presos há sete anos nas masmorras de Felipe, o Belo. A 18 de Março de 1313 todos se retrataram e na noite daquele mesmo dia pereceram todos nas fogueiras que com antecedência haviam sido preparadas. Prevaleceu a força ao interesse sobre a justiça. A última frase de Jacques de Molay foi: — "Spes mea in Deo est". Esta frase tornou-se uma divisa para o Grau 32 do Rito Escocês Antigo e Aceite.
É muito provável que os sobreviventes da Ordem dos Templários, anatematizados pela igreja, tenham, então, procurado agrupar-se de novo noutras associações, sendo que não há razões plausíveis para aceitar como facto histórico ou de repelir a titulo de lenda, a tradição maçónica que liga a tradição que praticaram os Templários à Ordem Cavalheiresca de Heredom, ou ao Grande Capítulo de Kilwinning. Entretanto desde que começaram as perseguições em França, vários templários escaparam, por felicidade, fugindo para a Escócia, alistando-se sob a bandeira do Rei Roberto 1, que criou a 24 de Junho de 1334, a "Ordem do Cardo", em favor dos maçons e dos Templários que haviam contribuído para o sucesso de suas armas em Bannock-Bunn, na qual as iniciações eram semelhantes às da Ordem do Templo.
Parece pois que o rei da Inglaterra quis recompensar os Templários, restabelecendo a sua Ordem, com as mesmas formas, mas com outra designação. Há outro facto mais importante ainda ,um ano depois, Roberto I, fez a fusão da Ordem do Cardo com a Ordem de Heredom, elevou a Loja Mãe de Kilwinning à categoria de Loja Real e, estabeleceu, junto a ela, o Grande CN.,ítulo da Ordem Real de Heredon de Kilwinning e dos Cavaleiros Rosa-Cruz. Este nome de Cavaleiro Rosa-Cruz aparece aqui pela primeira vez, tudo fazendo supor, que não é senão outra designação da Ordem dos Cavaleiros do Oriente, cujo emblema era uma cruz enlaçada por quatro rosas. Estes factos históricos são de importância capital para o Escocismo e pedem mais atenção para o assunto.
Verificamos em primeiro lugar, que nos séculos XII e XIII, a Maçonaria Operativa viu abrigarem--se Ordens de Cavalaria nas suas Lojas, que nenhuma relação tinham com aquela associação de ofícios, e cujas iniciações, praticas, cerimónias e graus eram diferentes dos seus. Algumas dessas Ordens refugiavam-se na nova Ordem estabelecida pelo rei Roberto I, umas por si próprias, outras com o beneplácito dos reis de Inglaterra, que acumulavam dos mesmos favores maçons e cavaleiros em recompensa por serviços prestados à coroa, que os agrupava numa fraternidade, sobre a qual podia apoiar-se, em caso de necessidade.
Uma outra constatação importante para o Escocismo, é que os Templários entravam, desde 1307, nas Lojas da Escócia que estavam sob a égide da Ordem do Cardo, levando, não obstante, para ela, as cerimónias Templárias e os seus graus. Estes graus junto aos da Ordem de Cavalaria eram conferidos pelo Grande Capítulo Real de Heredom de Kilwinning, e formavam o sistema escocês, conhecido pelo nome de Rito de Heredonn ou de Perfeição. Pode, assim, explicar-se como, após a suspensão da Ordem do Templo, certas Ordens de Cavalaria, que haviam mantido a sua influência sobre a maçonaria operativa da Escócia, acharam o meio de desenvolverem o cerimonial das iniciações dos pedreiros, num ritual completo e susceptível de inculcar aos seus iniciados mais do que a simples comunicação dos segredos da arte de construir.
É também por essa época, ou seja mais de quatrocentos anos antes da constituição da Grande Loja da Inglaterra, que nasceu na Escócia o nome de Maçom Adoptado, pelo qual se entenderam os membros das Lojas que não pertenciam à profissão de pedreiros. Insistamos em que essa fusão da Maçonaria operativa com as Ordens da Cavalaria, se operou somente na Escócia e não em Inglaterra. Isto explica, portanto, a origem escocesa de graus diferentes dos que eram conferidos pela corporação dos pedreiros de outros países - aprendiz, companheiro e mestre. Enfim, ao realçar-se o papel político das Ordens da Cavalaria e das Lojas da Escócia, inteiramente devotados ao rei da Inglaterra, compreende-se, então, a fidelidade com que a Maçonaria Escocesa defendia a causa dos destronados.
Para terminar esta parte deste trabalho, é interessante indicar quais os graus que a Loja Real de Kilvvinning e seu Grande Capítulo de Heredon conferiam desde o seu estabelecimento. A própria Loja trabalhava com os graus da Maçonaria operativa, ou sejam Aprendiz, Companheiro e Mestre de ofício, mas convém notar que o Grau de Mestre não existia naquela época em que os mestres não eram senão os dirigentes das Oficinas, isto é das construções, cada qual em sua profissão.
Os demais graus inspirados pelos Rosa-Cruz, foram criados no começo do século XVIII, quando o Capítulo de Heredon conferia aos membros da Ordem dos Cavaleiros do Oriente ou da Ordem dos Cavaleiros Rosa-Cruz, e da Ordem do Cardo, ou do Templo, todos os graus dessas duas Ordens. Depois de se terem, assim, brevemente resumido as tradições da confraria dos pedreiros e estabelecido, em conformidade com as circunstâncias, as Ordens de Cavalaria que a elas se ligaram, convém determo-nos um instante na Ordem da Rosa-Cruz, que exerceu uma influência preponderante na transformação da Maçonaria Operativa na sua forma Simbólica, como a conhecemos hoje.
Poucos historiadores se ocuparam ainda da origem real da Rosa-Cruz, que entretanto desempenhou papel considerável nos séculos XVI e XVII. O motivo dessa abstenção, explica-se pela ausência da necessária documentação histórica que os Rosa-Cruz não se preocuparam em guardar, pois viveram espalhados pelo mundo então conhecido, reunindo-se uma vez por ano para transmitir uns aos outros, os conhecimentos adquiridos. Porém, estes conhecimentos foram sempre transmitidos oralmente.
A Conferência Internacional dos Cavaleiros Rosa-Cruz, realizada em Bruxelas em 1880, lançou felizmente uma nova luz sobre a história dessa Ordem. A princípio a conjuração dos Rosa-Cruz, não foi mais do que uma afirmação da liberdade de pensar.
Uma obra de apaziguamento e de tolerância. O que os Templários tinham querido fazer no seio da Igreja Romana, os Rosa-Cruz também tentaram realizar, ficando, porém, cautelosamente fora de qualquer afirmação confessional.
Só passados quase quinhentos anos, desde que os Templários sobreviventes do massacre ordenado por Clemente V se estabeleceram na Escócia, durante os quais o Escocismo se consolidou e se espalhou pela Europa, é que vamos encontrar os novos registos das mudanças estabelecidas no Escocismo tal o conhecemos hoje. É conveniente lembrar, que o poder directivo da Ordem não estava mais na Escócia, nem na França, mas sim na Prússia, onde Frederico 11, o seu rei, havia efectivado profundas modificações no Escocismo, fazendo vigorar a sua primeira Constituição, Regulamentos e Leis Normativas. Uma dessas mudanças foi a de dar ao Escocismo os actuais trinta e três graus, pois até então tinha somente vinte e cinco.
As grandes Constituições de 1786 não chegaram a alcançar imediatamente o fim a que se haviam pro-posto, e é fácil de determinar a causa. Três meses depois de serem publicadas, em 17 de Agosto de 1786, Frederico II, seu autor, morreu. Todos os que, com Frederico II, compuseram o primeiro Conselho da Ordem reestruturada, foram obrigados a dispersar-se, pressionados pelo novo rei Frederico Guilherme II, que só queria a Ordem Rosa-Cruz e que passou a não tolerar outra forma de Maçonaria. Deste modo, a reforma foi levada para França por um dos colaboradores de Frederico 11, o 'Conde D'Esterno, embaixador de França em Berlim e um dos signatários das Grandes Constituições.
D'Esterno, tentou introduzir, logo após o seu regresso, o Rito Escocês Antigo e Aceite no seu país, fundando para isso um Supremo Conselho, em Paris, em cuja presidência ficou o duque de Orleans e do qual tomaram parte ChaítIon de Joinville, o Conde de Clermont-Tonnerre e o Marquês de Bercy. Este Supremo Conselho teve vida efémera, sendo obrigado a desaparecer pelas circunstâncias revolucionárias que se estabeleceram em França.
Há um facto curioso a ser registado. O Escocismo, foi fundado na Europa, onde adormeceu, e voltou a funcionar mais tarde, tendo voltado da América de uma forma mais vigorosa e mais envolvente, pelas seguintes razões:
A 27 de Agosto de 1761, o Conselho dos Imperadores do Oriente e do Ocidente entregou ao Irmão Estevão Morin, cujos negócios o chamavam à América, uma Patente de Grão-Mestre Inspector, autorizando--o a "Trabalhar regularmente pelo próprio proveito e adiantamento da Arte Real e constituir Irmãos nos Sublimes Graus de Perfeição". Morin, saindo de Paris, chegou a São Domingos onde instalou o seu gabinete, espécie de Grande Oriente para os Altos Graus no Novo Mundo. Em 1770, fundou o Conselho dos Príncipes do Real Segredo de Kingston, na Jamaica, criou muitos Inspectores Gerais, entre eles, Francken, De Grasse-Tilly, De Ia Hogue e Hacquest. Ora, esses Maçons da América, pertenciam ao Rito de Perfeição e mantinham relações assíduas com o Grande Consistório de Bordeaux. Mas, como já foi dito, este adormeceu em 1781. Desde então os novos Corpos de São Domingos e da Jamaica passaram a manter relações com Berlim até a morte de Frederico II, que era tido como o Grão-Mestre Universal. É provável, entretanto, que não podendo mais prevalecerem Actos Constitucionais emanados de uma autoridade desaparecida, aqueles maçons se tenham dirigido a Berlim, tendo em vista agruparem-se sob outro sistema ligando-se em definitivo ao Rito constituído pelas Grandes Constituições.
A 29 de Novembro de 1785, Salomão Bush, Grão--Mestre de todas as Lojas e Capítulos da América do Norte, dirige-se a Frederico 11 na sua qualidade de chefe supremo da Maçonaria para dar-lhe a conhecer a criação, na presença de uma grande assembleia de Irmãos, de uma "Sublime Loja" em Philadelphia, que "se submeteria às Leis e Constituições que a Ordem deve ao seu Chefe Soberano", e exprimir-lhe o desejo de que a "Grande Luz de Berlim condescenderá em iluminar a nova Loja". Os maçons da América trabalham, não obstante, até I 801 com o Rito de Perfeição, pois até aquela data o mais alto grau conhecido na América era o de Príncipe do Real Segredo, ou seja o Grau 25, na escala do Escocismo, antes da reforma estabelecido por Frederico II, que lhe acrescentou mais sete graus.
A 31 de Maio do mesmo ano foi constituída em Charleston uma nova Potência dirigente que adopta as Grandes Constituições de 1786 e os trinta e três Graus nelas estabelecidas. Essa Potência que tomou o nome de"Supremo Conselho dos Grande Inspectores Gerais para os Estados Unidos da América", foi realmente a primeira a concretizar de modo definitivo o objectivo das Grandes Constituições de Frederico II, ou seja, a primeira a praticar o Escocismo como é hoje conhecido. De Grasse-Tilly, era membro do Supremo Conselho de Charleston. Em 1802 voltou à Jamaica e fundou com De La Houge, naquela cidade, um Supremo Conselho de qual foi o Mui Poderoso Soberano Grande Comendador. Em 1803, De Grasse-Tilly regressou a França onde instalou em 22 de Setembro de 1804 um Supremo Conselho em Paris, com jurisdição internacional.
Assim o Rito Escocês Antigo e Aceite e o Escocismo, renasciam das suas cinzas em solo francês, de onde não mais saíram, e achavam-se definitivamente constituídos sobre as bases das Grandes Constituições. Foram sucessivamente fundados outros Supremos Conselhos em muitos países da Europa e na maior parte dos estados da América. Estes Supremos Conselhos formam hoje o Escocismo e o Rito Escocês Antigo e Aceite, que é o Rito maçónico mais praticado no mundo.
Vamos parar por aqui este relato, porque todos os acontecimentos posteriores a 1801 pertencem à história do Rito Escocês, em todas as suas formas, e o nosso propósito limita-se às suas origens.
O Rito Escocês Antigo e Aceite termina, assim, o período do seu estabelecimento, da sua organização, do número e dos nomes dos seus trinta e três graus e das regras que os regem. Contudo era ainda necessário, em suma, a fixação de um plano comum, que fosse finalmente considerado como definitivo.
Desde então a sua organização compreende uma série de seis grupos, a um tempo unidos e hierarquizados. A Loja Simbólica, a Loja de Perfeição, o Capítulo, o Conselho de Kadosch, o Consistório e o Supremo Conselho. O conjunto destes Corpos, forma uma Instituição na qual todos os elementos estão ligados entre si, e cujas categorias funcionam sem se contraporem umas às outras numa harmonia feliz pela integração de todos.
Todos esses Corpos constituídos, independentemente uns dos outros, têm uma organização específica e uma hierarquia interna, direitos e deveres apropriados que as leis e usos do rito determinam. Ora, essas leis não são mais do que leis de equilíbrio destinadas a assegurar o funcionamento da sociedade inteira em perfeita ordem e harmonia. O Rito Escocês Antigo e Aceite representa os maçons que desde 1717 consideraram como incompleto o sistema da Grande Loja da Inglaterra; os que, durante o século XVIII, procuraram organizar numa só série as iniciações que outrora eram praticadas nos colégios independentes.
Enfim, o Rito Escocês Antigo e Aceite resolveu definitivamente o problema que tinha por objectivo conservar na Maçonaria os ensinamentos filosóficos que, há séculos, se agruparam em torno do pensamento primitivo e simples, em que a Maçonaria está estabelecida. Cada iniciação evoca a lembrança de uma religião, de uma escola, ou de alguma instituição da antiguidade. Estão em primeiro lugar as doutrinas judaicas. Vêm em seguida os ensinamentos baseados no cristianismo e representados sobretudo pelos Rosa-Cruz, esses audazes naturalistas que foram os pais do método de observação e procura da verdade, de onde saiu a ciência moderna. Portanto, as iniciações do Escocismo reportam-se aos Templários, esses cavaleiros hospitalares e filósofos nos quais os maçons dos Altos Graus glorificam a liberdade do pensamento corajosamente praticada numa época de terrorismo sacerdotal. O tempo terminou a sua obra. Doravante a prosperidade da Ordem dependerá em cada país dos Irmãos que a conduzem e a inspiram. A fidelidade absoluta da parte de todos os maçons dos Altos Graus ao Estatuto Geral de cada Supremo Conselho e a convicção inquebrantável na excelência do Escocismo, são sem sombra de dúvida as condições necessárias para a perpetuação da Ordem, mas para esse desiderato é necessário que cada um de nós cumpra bem a sua parte.
- Trabalho colocado em observações próprias do autor e na conferência realizada no Subl.·. Capítulo L'Amitié (Amizade) em Lousanne em 5-5-1923 pelo Ir.·. Mourice Joton 300
Fonte: https://www.gllp.pt/index.php/rito-escoces-antigo-e-aceite
De todos os Ritos Maçónicos praticados hoje em dia pela Maçonaria Universal, o Rito Escocês Rectificado, o R.E.R., é sem sombra de dúvida, o mais esotérico, o mais incompreendido e o mais complexo de todos eles.
Mas também o mais lógico, o mais consequente, e, pela sua génese, o mais ligado às origens de uma Maçonaria operativa Teísta escocesa, anterior às reformas Deístas do Reverendo James Anderson e à Maçonaria Inglesa protestante do Início do Século XVIII. Trata-se de um Rito profundamente Cristão, mas no sentido mais lato da palavra. Não admite no seu seio Judeus ou Muçulmanos praticantes, não por uma questão de racismo religioso, mas por uma razão de coerência ideológica já que não faria qualquer sentido que membros não cristãos praticassem juramentos sobre o primeiro capítulo do Evangelho de São João. Contudo, não veda os seus trabalhos a qualquer deles, deixando ao seu critério, desde que não praticantes, integrarem ou não as respectivas Lojas.
O R.E.R. através da R:. L:. Nonnino é nº 436, da Grande Loja Nacional Francesa, depois de rebaptizada de Fernando Pessoa, está na origem da regularidade Maçónica em Portugal e na Fundação da Grande Loja Regular de Portugal. Curiosamente, também a G.L.N.F., nossa Grande Loja Mãe, acedeu à Regularidade através do Rito, quando em I 9 I 3, alguns Graus 33 do Grande Oriente de França, entre eles Camil-Jean-Baptiste Willermoz le Savoire e Eduardo de Ribaucourt solicitaram ao Grande Priorado Independente da Helvécia, serem recebidos Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa, tendo formado uma Loja, "Le Centre des Amis" a qual, juntamente com a L'Anglaise de Bordeaux", viria a formar a futura G.L.N.F.
O R.E.R., ou melhor o Regime Escocês Rectificado, surge em França no Sec. XVIII, mercê dos trabalhos de Irmãos Franceses de Lyon, Paris e Estrasbur-go sob a orientação desse grande maçon que foi o Jean-Baptiste Willermoz. É ele que na sequência dos trabalhos do Convento das Gálias, Lyon 1778, e depois de Wilhelmbsbad, em 1782, redige os Rituais de Aprendiz, Companheiro e Mestre e esboça o de Mestre Escocês de Santos André, bem como os de Escudeiro Noviço e Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa que virá a concluir mais tarde, passada a tem-pestade revolucionária de 1789. A Revolução, com todo o seu ímpeto anticlerical foi particularmente madrasta com o R.E.R., tendo o Rito declinado ao longo do final do sec. XVIII e início do sec. XIX. Então a loja francesa de Bansançon acaba por entregar as suas patentes à Prefeitura de Genebra onde o Rito sobrevive num ambiente suíço exclusivamente calvinista, vindo como já foi referido, a ressurgir em França no séc. XX.
Depois da 2a Grande Guerra, tal como a Fénix, emblema do Regime, esse ressurgimento conduziu, hoje em dia, à sua existência na Europa, além da Suiça, em França, Bélgica, Portugal, Espanha, Inglaterra, em África no Togo, e na América do Sul, no Brasil, países onde existem Grandes Priorados, e com projectos em curso na Itália e na Roménia. Na América do Norte existem também Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa, embora um pouco sui géneris, na medida em que são apenas um ou dois por Estado, em geral ex-Grão Priores de Priorados Templários e militares de altas patentes dos vários ramos das Forças Armadas.
Origem Histórica
O R.E.R. nasce em França na segunda metade do sec. XVIII, tem um eclipse aparente no sec. XIX e, sobretudo a partir de 1960, está em franco ressurgimento.
É dentro do Cristianismo, um rito ecuménico, embora se possa considerar restritivo em relação a outras religiões mesmo monoteístas. O Rito é fundamentalmente Joanita. Está ligado à mensagem de Amor e Tolerância do Novo Testamento sem detrimento da Justiça vinculada pelo Antigo Testamento.
Está ligado à "Tradição Templária" em termos de Herança Espiritual e próximo da"Gnose Cristã". Não é um Rito Católico, é um Rito Cristão.
É provavelmente o Rito mais próximo da Maçonaria Operativa de origem Medieval. Ou seja da Maçonaria anterior a "24 de Junho de 1717". Em Loja simbólica os obreiros, além de avental e luvas, usam, todos, uma espada e um chapéu triangular embora só a partir do grau de Mestre se possam cobrir. Já referimos que o Regime é resultante dos trabalhos de vários Maçons ilustres de que se deve destacar Jean-Baptiste Willermoz, comerciante de sedas de Lyon.
Face a uma dispersiva disparidade de Ritos e Sistemas maçónicos na altura existentes e à preponderância que a Estrita Observância Templária (E.O.T.) começava a ter no mundo maçónico, intrigado, fascinado e depois um pouco céptico do sistema maçónico dos “Eleitos de Cohen” de Martinez de Pasqually, Willermoz parte para a criação de um Rito que reflecte essas três tendências:
A Maçonaria existente em França da sua vertente mais significativa (escocismo).
As doutrinas cabalístico/ocultistas do teosofismo martinezista do Sistema dos Eleitos Cohen de Martinez de Pasqually.
O Sistema da Estrita Observância Templária do Barão de Hund também apelidada de Maçonaria Rectificada (Reforma de Dresde), sistema alemão em que a vertente cavaleiresca se sobrepunha à maçónica já que se reclamava não só herdeira mas restauradora da Ordem do Templo extinta em 1312.
Willermoz, muito inteligentemente, retira à E.O.T. as suas pretensões Templárias, no sentido da restauração politico-material e temporal da Ordem e reclama-se de uma herança espiritual apenas. Acalma assim as Monarquias existentes e a Igreja de Roma.
Mantém o conteúdo esotérico do sistema de Pasqually mas avança para um ecumenismo não impregnado da teosofia martinezista onde por um lado introduz as teses de Martinez sobre a origem primeira do Homem, a sua condição actual e destino final no Universo mas sem entrar em choque com a mensagem inicial da Tradição Cristã divulgada através dos primeiros Padres da Igreja.
Não divorcia totalmente da prática maçónica praticada em França ou seja do Escocismo e dos vários graus que sintetizados mais tarde irão em 1786/87 vir a constituir um Rito Francês.
Resultado dos vários Convénios que se sucedem o R.E.R. acaba por ser finalmente estabelecido em 1782, em Wilhelmsbad continue a trabalhar nos diversos rituais até 1809.
Após a entrega, na sequência da Revolução de 1789, à Prefeitura de Genève da tutela do Regime e do Rito desenvolviam-se sistemas semelhantes na Alemanha e Países Escandinavos que conduziram basicamente ao Rito Sueco e ao rito de Zinnendorf.
Em 1958 o Grande Priorado das Gálias que administrava todo o Regime, assina um protocolo com a G.L.N.F. passando esta a ter toda a autoridade administrativa sobre os graus azuis.
Esta medida é adoptada por todas a Grandes Lojas Regulares na actualidade.
Em Portugal a Grande Loja Regular de Portugal/G.L.R.P. tem também a autoridade administrativa sobre os Graus Azuis, tendo as Lojas de Santo André e a Ordem do Interior sido introduzidas pelo Grandes Priorado Independente da Helvécia com a criação do Grande Priorado Independente da Lusitânia.
O G.P.I.L. seguiu, até aqui, os Rituais e Organigramas que nos tinham sido transmitidos pelos suíços. Contudo, face às próprias reformas por eles introduzidas em ambos, que cada vez mais os afastam do pensamento inicial de JB Willermoz, e face às nossas próprias tradições, religiosas e históricas, entendemos reformular os nossos Rituais e Organigrama tornando-os mais coerentes com a herança Templária que está na génese de Portugal e a sua mensagem gnóstica, prolongadas na Ordem de Cristo.
Assim acentuou-se a separação da Maçonaria Simbólica da Ordem Interior, passando as Lojas de Santo André a depender não das Prefeituras mas de um Directório Nacional Escocês, na dependência directa do Directório do GPIL através de um Deputado Mestre Nacional, traduziram-se e fixaram-se os Rituais originais de Willermoz.
A prática dos Rituais York, tem duas correntes principais a saber: uma de raiz na Ilha (Grã--Bretanha) e outra de raiz na América do Norte, de modo algum antagónicas mas espelhando as realidades onde foram abrindo caminho envoltas nos conflitos religiosos e políticos dessas épocas. O percurso dos monarcas reinantes na Ilha após 1535 (período Tudor) é agravado com os dois períodos Stuarts, pela governação Commonwelth e pela Hanover e as inerentes convulsões de carácter religioso (Católicos, Anglicanos, Protestantes...) e ainda com os problemas decorrentes do Tratado da União de 1707 e do Acto da União de 1800 — Jorge III.
No continente Americano, para além das colónias de França, Espanha, Holanda, etc., temos o estabelecimento das 13 Colónias de língua Inglesa, a primeira delas a de Jamestown na Virgínia, a segunda de Massachusetts e a terceira de Nova Inglaterra maioritárias de Peregrinos, Puritanos e Protestantes/Calvinistas e de alguns fugitivos. Estes colonos são defensores de rigor e de livre pensamento pugnando pelo direito à instrução e à interpretação da Bíblia.
A guerra da Independência decorre de 1775 a 1783, sendo o primeiro grande acto de revolta em Boston, o lançamento ao mar do chá que estava a aguardar desembarque em 16 de Dezembro de 1773.A declaração de Independência escrita por Thomas Jefferson é assinada em 4 de Julho de 1776 mas só fica ratificada pelo Tratado de Paris em 1783.
Estes dois caminhos geram pequenas diferenciações tanto no prática dos Rituais como nas precedências dos Corpos Rituais e dos Corpos paralelos.
Mas acima de tudo, é mantida a grande componente inicial: A Ritualística dos diferentes Corpos Directos e Paralelos é Cristã. Os ensinamentos e parábolas são maioritariamente inspirados no Antigo Testamento, sendo a compilação mais antiga dos primeiro ao sétimo graus a consignada na Duncan's Masonic Ritual and Monitor de Malcom C. Duncan de 1866 e que ainda se pratica nos USA e nos países aí filiados. No entanto a primeira estrutura e doutrinação filosófica é organizada em 1799 por Thomas Smith VVebb.
Em Inglaterra, os registos mais antigos encontram-se referenciados nas actas de 1751 da Grande Loja dos Antigos.
Anteriormente a história confunde-se com a lenda. Athelstane 1, rei de Inglaterra da Casa de Wessex, que reinou de 2 de Agosto de 934 a 27 de Outubro de 939 e foi sepultado na Abadia de Malmesbury em Wiltshire, teve um filho Edwin que por sua ordem terá realizado uma Assembleia de Maçons onde foi redigido o Primeiro Regulamento Geral.
Em 1389 é redigido o Manuscrito Régio que consigna o tema anterior e dá o facto passado na Nortumbria cuja capital é a cidade de York.
Nas actas das Guildas encontram-se referências à operacionalidade de corpos de profissionais, às admissões, às obrigações e aos deveres dos aprendizes e companheiros.
Da sua denominação:
Quanto à sua denominação esta resulta do nome do personagem central da construção do Templo de Salomão – ADONHIRAM- . Não se trata de uma alteração à lenda do 3º Grau, esta foi e é fielmente respeitada, verificando-se apenas divergência na forma como se entende o personagem central, chamado por uns de Adonhiram e por outros de Hiram Abif. A lenda é originária do Talmude onde se terá em conta que Adon em Hebraico significa apenas Senhor, mas no Caldeu-Hebraico é o antigo nome de Elhoim ou “forças criadoras terrestres” sintetizadas em Jeová.
Assim, nesta corrente ritualistica, o construtor do “Templo” é o “Senhor da Vida” ADONHIRAM (Adon + Hiram).
Da sua origem:
Na primeira metade do século XVIII, mais propriamente por volta do ano de 1740, com a decorrência directa da reforma do Rito de Heredon, nasce em França o Rito Adonhiramita, também conhecido como Rito dos Doze em virtude do seu número de graus, afirmando-se como um ramo do escocismo maçónico, resultante do célebre discurso do Cavaleiro de Ramsay, o qual transporta para a maçonaria o templarismo bem como o espírito de cavalaria.
Foi seu autor o Barão de Tschoudy, que fruto da sua experiência no Capítulo dos Cavaleiros do Oriente, para o qual escrevera os Rituais de Iniciação e Catecismos de Instrução, forneceu todo o material necessário para a compilação de Louis Guillemain de San Victor, intitulada “Recueil Précieux de la Maçonnerie Adonhiramite” COLECÇÂO PRECIOSA DA MAÇONARIA ADONHIRAMITA, cuja consequência foi a constituição de inúmeras Lojas na Europa e no Oriente próximo, chegando o Rito Adonhiramita a ser um dos ritos mais difundidos, como se vê em Thori na sua obra «História do Grande Oriente de França».
Tschoudy, de forma sábia e prudente, respeitou a tradição tendo composto os primeiros três Graus chamados Simbólicos, tal como eram e ainda são praticados em todos os Ritos e sintetizou os seus conhecimentos no desenvolvimento dos chamados Altos Graus que inicialmente se desenvolviam do 4º grau ao 12º grau, sendo hoje desenvolvidos do 4º ao 33º.
Da sua filosofia:
Este Rito é histórico, característico e essencialmente metafísico, esotérico e místico, tornando-se exotérico quando exerce o magistério da sua liturgia. Isto quer dizer que é um rito virado para o interior de cada Obreiro, trabalhando no seu interior, sendo visível o resultado desse mesmo trabalho na forma como o Obreiro realiza o ritual, e é esta parte visível em constante mutação que lhe dá a vitalidade como Rito Maçónico.
Tem por bases teológicas as verdades Bíblicas reveladas no Antigo Testamento, no que concerne principalmente à construção do Templo de Salomão, e no Novo Testamento, no que concerne às origens do Cristianismo, realçando aspectos comportamentais de um neo-catarismo. Pelo que se torna necessário o estudo do fenómeno cátaro, principalmente pelos seus Mestres, para que possam conhecer e dar volume ao traçado do ritual.
Consagra e pratica intransigentemente os princípios das Constituições de Anderson e os Landmarks da Maçonaria Universal, e assenta uma ética de comportamento para os seus Obreiros na prática da nobreza de atitudes que a tradição nos transmitiu com a influência do cristianismo primitivo e da Cavalaria Medieval.
Pugna pelo engrandecimento moral da Humanidade com o objectivo de conduzir os homens a uma harmonia de vida justa e perfeita sobre a terra e dessa forma contribuir para que alcancem a suprema felicidade celeste ao passarem para Oriente Eterno.
Actualmente a sua prática é efectuada apenas em língua portuguesa, nos Orientes de Portugal e Brasil, mantendo-se os actuais rituais com grande fidelidade aos originais sendo no entanto notória a sua adaptação à língua e cultura Luso-Brasileira.
Das suas características:
A metodologia maçónica do Rito Adonhiramita procura através da liturgia dos seus Rituais disponibilizar-nos conhecimentos para o aprimoramento do nosso interior, com a repetição de gestos, posturas e palavras, as quais uma vez compreendidas, possibilitaram uma viagem iniciática interior religando-nos à Energia Divina ou iluminação, o que chamamos de “Verdadeira Luz”, algumas delas são particulares do rito as quais constam dos seus rituais.
O Rito de Emulação
[1], também chamado RITO DE RECONCILIACÃO, com antecedentes de antiguidade indiscutível, foi estabelecido pela GRANDE LOJA UNIDA de Inglaterra no ano de 1813, por ocasião da União das duas Grandes Lojas existentes. O seu nome provém da “Emulation Lodge of Improvement”, encarregada de preserva-lo em toda a sua pureza, numa época na qual não se permitiam Rituais
[2] escritos.
A palavra Emulação, no conceito maçónico, significa seguir o exemplo, imitar. Seguir o exemplo no sentido de reproduzir as cerimónias maçónicas praticadas pelos antigos maçons da Inglaterra, uma vez que a origem e o berço da Maçonaria se situam naquele país, cabendo, portanto, aos novos seguir o exemplo das antigas práticas ritualistas, perpetuando-as.
Antes da união das duas Grandes Lojas rivais, a dos Modernos e a dos Antigos, muitos esforços de bastidores foram empreendidos para padronizar as formas ritualistas, ou seja, aquilo que entendemos hoje por rituais.
Em 1794 dois antigos Grão-Mestres, John IV, duque de Atthol, Grão-Mestre dos “Antigos” e George, Príncipe de Gales, Grão-Mestre dos “Modernos” solicitaram ao Príncipe Edward, mais tarde duque de Kent, Grão-Mestre dos “Antigos”, que arbitrasse o trabalho de unificação.
Em 1809 a primeira Grande Loja (dos Modernos) tomou a iniciativa, promovendo a fundação da Loja da “Promulgação” com o objectivo de estudar os Landmarks e as práticas esotéricas, para recomendar as mudanças que deveriam ser feitas no sentido de trazer os rituais a uma forma aceitável, visando de antemão a preparação para a união das Grandes Lojas rivais. Um corpo similar foi fundado pelos “Antigos”.
Em 7 de Dezembro de 1813 é criada uma loja mista: “Lodge of Reconcilition” (Loja da Reconciliação) – que harmoniza os rituais. O trabalho foi efectuado oralmente, respeitando a proibição de nada escrever a respeito do “segredo” maçónico. Nenhuma acta foi redigida, assim como foi proibido tomar notas.
A loja da “Reconciliação” passa a apresentar, na prática e oralmente, o novo ritual harmonizado para as lojas de Londres e arredores. Essas apresentações prosseguiram durante três anos ininterruptos. Desde essa data a forma ritualista praticamente foi padronizada em toda a Inglaterra.
Em Junho de 1816, as formas dos rituais para uso na nova Grande Loja foram demonstradas pela Lodge of Reconciliation, constituída especialmente para produzi-las, as quais viriam a documentar, oficialmente, numa resolução e, pela primeira vez, as Cerimonias praticadas até então.
Assim, em 1816, surge oficialmente um novo ritual, aprovado e confirmado, pela Grande Loja Unida da Inglaterra, resultado de um longo trabalho iniciado em 1794, coroado pelo “Act of Union” de 27 de Dezembro de 1813 e finalmente concluído em Junho de 1816.
Em 2 de Outubro de 1823 os membros da “Burlington Lodge”, fundada em 1810 e da “Perseverance Lodge”, fundada em 1817, reúnem-se, pela primeira, na “Emulation Lodge of Improvement for Master Masons” (Loja Emulação de Aperfeiçoamento para Mestres Maçons), com a finalidade de dar instrução, especialmente, para aqueles que entram na cadeia de sucessão e desejam preparar-se para cargos em Loja, almejando alcançar a cadeira principal de uma Loja Simbólica. Ela reúne-se no Freemasons`Hall, na Great Queen Street, em Londres, semanalmente às 18h15m, das sextas-feiras de Outubro a Junho, onde demonstram as Cerimonias e Prelecções de acordo com o Trabalho de Emulação, mas somente Mestres Maçons podem frequenta-la.
O Emulation working (trabalho em Emulação) recebeu o seu nome da Emulation Lodge of Improvement, cujo Comité é o curador do ritual, por delegação da Grande Loja Unida de Inglaterra, que autoriza a publicação do livro denominado Emulation Ritual (Ritual de Emulação).
As instruções nos anos iniciais, concentradas nos trabalhos do Primeiro Grau e preparação dos candidatos a sucessão na Cadeira da Loja, eram realizadas por meio de palestras maçónicas de acordo com o sistema da Grand Setwards` Lodge (Loja dos Grandes Provedores), cujas prelecções descrevem, em detalhe, as cerimonias. Em 1830, conforme a uma prática geral que então se havia desenvolvido, as próprias cerimónias eram também ensaiadas.
Os responsáveis pela condução da Emulation Lodge of Improvement, desde os primeiros tempos, adoptaram a postura de assegurar a prática do ritual aprovado sem permitir a sua alteração. Embora, não se possa pretender que o actual Ritual de Emulação esteja na forma exacta do ritual praticado verbalmente há quase dois séculos atrás, as Cerimonias daqueles tempos foram original e especificamente aprovadas pela Grande Loja Unida de Inglaterra, a quem cabia, única e exclusivamente, actualiza-las ou aprovar as suas actualizações. Por esse motivo, o Comité da Emulation Lodge of Improvement, sempre considerou que, por razões de confiança, deveria manter sem alteração as formas rituais completas passadas pelos seus predecessores, e que estava fora da sua autoridade fazer qualquer alteração, a menos que oficialmente sancionadas por resolução ou aceitação própria da Grande Loja da Inglaterra.
Devido ao facto de a Grande Loja considerar que o ritual não devia ser confiado a impressão, já que, como foi referido, uma das suas características era o de ser praticado de cor. A “reprodução” oral constituía o único meio oficial da sua transmissão.
Foi, apenas, em 1969 que a Loja Emulação de Aperfeiçoamento patrocinou a publicação da primeira edição do `Ritual de Emulação.
O Ritual caracteriza-se por procedimentos muito peculiares, ausentes em outros rituais, pelo despojamento de certas pompas aliado à simplicidade e singeleza, o que acaba por lhe conferir certa gravidade e um ar de sobriedade sem, todavia, torná-lo circunspecto.
Duas características deste ritual merecem ser especialmente mencionadas: a primeira é que o ritual deve ser conhecido e praticado de cor, sendo a prática do cerimonial sem alterações um aspecto determinante do rito; a segunda é que todos os trabalhos em loja só podem ser feitos à Glória do Grande Arquitecto do Universo.
Outras características deste rito são: É tradição não haver disputa de cargos, em hipótese alguma. A linha de sucessão deve ser respeitada, para que a harmonia e a união entre os irmãos seja mantida. O V.M. é o único que pode falar sentado na Loja. Os demais, falam de pé e à ordem e com o passo. As batidas são três, em todos os Graus, a diferença é no ritmo. Nenhum Oficial tem direito de reclamar promoção quando entra na linha de sucessão. Em nenhuma procissão/cortejo é permitido a algum I.`. ficar entre o V.M. e seus VV.`.. Se houver uma Ode de abertura ou música apropriada, deve ser cantada ou executada antes de abrir a Loja e se houver um de encerramento, só depois da Loja fechada. A marcha é sempre iniciada com o pé esquerdo.
Ainda que se exclua qualquer alusão confessional ou religiosa, no desenvolvimento do ritual, as invocações ao Grande Arquitecto do Universo demonstram a sacralidade deista, que em Maçonaria não é mera formalidade de princípios, mas representa o seu aspecto esotérico, que é o suporte necessário e indispensável ao aspecto esotérico deste Rito.
No Ritual de Emulação reconcilia-se a Antiga Maçonaria – com as suas conotações operativas e deístas – com a Maçonaria Moderna, teísta, e marcadamente misteriosa e esotérica. A confluência das duas correntes é a base sobre a qual se apoia a actual regularidade e a validade da Filiação e da Iniciação Maçónica, ambas de origem Andersoniana. (de James Anderson, “As Constituições de Anderson”)
Todas as Grandes Lojas e Grandes Orientes do mundo utilizam o Ritual de Emulação na Instalação dos Veneráveis de suas Lojas, qualquer que seja o Rito em que elas trabalham. Esta característica, de rígida aplicação, faz com que somente seja reconhecida a qualidade de Verenável aos Mestres que tenham sido instalados segundo o Ritual de Emulação, no qual são transmitidos a Palavra de Passe do Mestre Instalado e os correspondentes sinais de reconhecimento.
O Ritual de Emulação pertence à tradição e a todos os Irmãos que a ele se sintam ligados, por se constituir num instrumento de regularidade, e de validade iniciática e espiritual.
[1] Rito – representa as regras e cerimónias de carácter sacro ou simbólico que seguem preceitos estabelecidos e que se devem observar na prática. Em síntese representa um sistema de organizações maçónicas inseridas num determinado modelo.
[2] Ritual – representa o livro que contem o conjunto de práticas consagradas pelo uso, por normas ou ambas, e que se devem observar de forma invariável em ocasiões determinadas. Sintetizando é o cerimonial.